Foto de Heloisa Bortz.
Escrever é cortar, meus companheiros de solidão artística. Quem sabe do ofício, sabe que é assim. Escrevemos demais, tanto quanto falamos demais. O fluxo vem como se preciso fosse explicar muito, o que sem palavras se diria melhor. O corte é prazeroso, porque propicia o espaço, o silêncio criativo, a poesia quieta. Nada precisa de tanto.
Intuo que mais ainda do que a união é a reconciliação que faz de uma junção afetiva um matrimônio. O novo concílio, o novo perdão. O que é compaixão? É o passar junto por. Atravessar os problemas, os dias, a vida: travessia que se pode fazer de mãos dadas, ou de almas entrelaçadas, em harmonia, em congraça. Esquecer uma desavença é reescrever uma abertura: corte de excessos. Bonito é o ato de fazer as pazes. Tem dias que a relação com o outro pode ser uma reconciliação consigo mesmo.
Um dia as coisas não se encaixam mais e de repente nossos sentimentos já estão nas caixas perto da porta de saída, esperando o caminhão da mudança. Precisamos mudar.
Cada vez mais eu sinto que amar é esvaziar o apartamento, desocupar. Talvez amar seja não amar. Enxugar-se é estar cada vez mais presente.
Corto minha peça como quem se reconcilia consigo.
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