Leiam texto sobre Plínio Marcos aqui.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para Jovens de Bom Gosto

Maria Lúcia Candeias, Doutora em teatro pela USP, Livre Docente pela Unicamp


“Quem prefere um teatro com um belo texto vai se surpreender com a peça de Leo Lama (digno filho de Plínio Marcos) que não se dedica aos assuntos que o pai gostava, mas aos de sua geração. A peça – também dirigida por ele – traz um ótimo casal de atores (Leonardo Ventura e Priscilla Carvalho) vivendo e discutindo o tema mais recorrente nas peças escritas por jovens atuais: a descoberta dolorosa de que o amor morre, não é eterno como se acreditava, “mas infinito enquanto dure” como escreveu o poeta Vinícius de Morais. O espetáculo está em cartaz às quintas e sextas às 21:30hs no Teatro Imprensa”.

Foto minha, ensaio: 07/10.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Alguns dias depois de tudo

Por Tarcila Rigo (Estudante do Colégio Oswald de Andrade, espectadora essencial)


É duro aceitar que quase todos nós estamos estagnados. Por hábitos, crenças que não nos dão respostas. Nossa existência é permeada por dúvidas e angustias sobre o próprio existir, e dai surgem muitas outras. A incerteza que paralisa. Então vivemos vidas paralelas: uma onde não saímos do lugar e outra que se cria a partir das suposições e intenções onde eu faria e ele responderia, mas não fiz e nada aconteceu.

Saí (da peça) me sentido numa cadeira de rodas, louca pra que alguém me levasse até uma ladeira e empurrasse. Talvez lá eu descobrisse que eu tenho asas ou só daria com a cara na chão. De qualquer forma sairia dessa condição. Mas que outro é esse que deve me empurrar? Em quem deposito minhas expectativas de mudança e logo minhas frustrações? É justo que o outro seja responsável pela minha condição?

Muitas imagens permearam meus pensamentos, apesar de não ter visto nenhuma delas concretamente. Minha imaginação era induzida a ver coisas que meus olhos não viam.

Muitas dessas imagens já estavam arquivadas e apenas despertaram e me relembraram de coisas que estavam adormecidas. É bom ouvir alguém falar a mesma língua.

Foto de Leníse Pinheiro.

Para um novo modelo de relação

E destarte quando estivermos bem unidos, assim, depois de uma noite intensa, entrelaçados um nos braços do outro, nos olharemos nos olhos e declararemos com afeto: "eu tenho bom humor por você". E tais palavras que virão substituir o antigo “eu te amo”, criarão um novo tipo de sentimento mais condizente com quem nutre afeição por alguém. E logo se disseminará pelas cidades, porque todos perceberão que somos mais felizes que os que se “amam”, porque pra quem ri tudo é de graça.

E aquela angústia que os apaixonados sentem, aquele medo de perder, aquele ciúme, aquela posse, para nós será a abertura dos poros, o afrouxar da barriga, o rir de até doer em lágrimas de riso e sorriso como fosse pausa de espera de gargalhada. Que o bom humor clareia o ar de gargalhar.

E se tudo é pacto de jogo e a vida é tão perigosa que brincando sem brincadeira o sério fica faceto: pra que não?

E se perguntará do que estamos rindo. Talvez nem consigamos transmitir a piada e talvez não seja um chiste o que nos comove de rir. Que quando se vê o Encantado de verdade é que se vê que é o que há de mais sem fantasia. E o próprio, talvez, seja justamente essa fartura de dentes expostos, de olhares com brilho, de bochechas rosadas. Assim é que o encantamento é mais do que a tola fissura carente que se instala e funga feito fungo entre os laços dos abraços lassos. Mas a Graça é a graxa que encaixa os engraçados: lubrifica.

E as tensões, as cobranças, as transferências, as tolices causadas por inseguranças sem sentido, se encolherão entre os espíritos largos das crianças do novíssimo amor. E nós, entre nós, sem nós, frouxos de gracejar como quem reza: rindo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Bardo Teatro

Quero agradecer aos que têm nos prestigiado. As apresentações, ainda irregulares, estão, mesmo assim, provocando interessantes respostas de quem assiste. Nossa peça é como um filho novo, ainda engatinhando. Só a exibimos quatro vezes, mesmo assim os espectadores estão tratando nossa jóia com carinho e respeito. Ficam para conversar ao final, comentam, indicam, trocam.

A dramaturgia que estou propondo é um diálogo aberto, que evoca, pergunta, abre muito mais do que encerra. Minha direção, somada ao olhar de Joana Levi, propõe muito mais um jogo de imaginação do que de visão. As asas são telas, as rodas das cadeiras são esferas de proposições espirais.

Para mim, a peça nunca está boa, nunca está acabada, nunca disse tudo ou alcançou um nível satisfatório. Cada vez que assisto, sinto que algo falta, que algo não foi realizado, que a perfeição está longe de ser atingida. Me sinto em movimento interno, conversando abertamente com o que estamos criando. Quero mais, quero menos, quero outra coisa, sem perder o que está sendo feito. A arte é sempre um processo, não de insatisfação e autocrítica, mas de busca e desafio. É preciso se arriscar, querer mais, dar mais. É preciso viver o jogo de dentro: necessidade e precisão.

Evoco símbolos, evoco mistérios, evoco emoções que buscam um centro e não a lamúria dos perdidos em autocomiseração. Como artista quero destruir o que se está destruindo e quero edificar o elevado.

Na Tradição Tibetana a palavra “Bardo”, que vem da expressão “Bardo Thodol”, geralmente traduzida como “O Livro Tibetano dos Mortos” e mais precisamente poderia ser também traduzida por “O Livro da Escuta Entre Dois”, é citada na peça em forma de trocadilho a ser desvendado. Os personagens se referem a uma festa que acontecerá no “Bar do Teatro” ou no “Bardo Teatro”, ou seja, o lugar das representações transitórias. Minha peça, entre outras coisas, fala sobre o limbo, a transição, o lugar de passagem em que se encontram os que ainda não se encontraram. Não é exatamente onde estamos? Encontrar-se será mesmo importante? E se a questão for: no que devemos nos perder? Percebo que muitos estão perdidos na busca do próprio rabo.

Muitos dizem que é preciso “acreditar em si mesmo”, e se, o que fosse preciso fosse acreditar no Si Mesmo e não em si mesmos? Eis a estrutura vazia, grávida de todas as possibilidades.

Metamorfose

De repente, como Gregor Samsa, você acorda e está em uma cadeira de rodas e de suas costas saem asas. De repente você é um inseto monstruoso. Meio anjo, meio paraplégico. Meio homem, meio animal.

O símbolo é matriz de muitas intelecções. O símbolo é algo que você não entende em si mesmo, mas ajuda você a entender uma série de outras coisas.

De repente você sai voando: milagre. Como isso é possível? Como isso pode ser explicado? Nada ou ninguém explica um milagre. O milagre é que explica tudo. Elucida.

O Primeiro Dia Depois de Tudo é um sonho acordado dirigido, quando assistir, deixe o sonho falar.

Nós não entendemos o Mistério. O Mistério nos ilumina por dentro. O Mistério não pode ser penetrado. O Mistério fecunda.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Impressões

Por uma espectadora essencial

Eu ando meio estilhaçada por contatar tantas impossibilidades humanas e fico desencantada de saber que o retorno ao Um não prescinde dessa loucura toda. Por que cargas dágua a gente pare filhos e tantos apegos? Pra aprender a ilusão da existência dualista? Pra morrer toda noite e nascer no dia seguinte? Esse jogo do Divino, com todo respeito por Ele, cansa.

Eu tenho visões, intuições e cada vez mais o contato com isso que flutua. E ainda não há caminho. Eu terei que criar asas e saltar de mais algum abismo que nem sei? Ok. Saltar pra ver. E lá vou eu espatifada no chão e ainda assim, nem morro e nem fico sem fraturas. Qual é o abismo certo de se pular? Aquele que não está para fora, cima ou abaixo, mas aquele que está indubitavelmente para dentro? E saltando pra dentro, onde é o dentro do dentro mais abismal ainda? Perguntas dos sentimentos que a peça trouxe.

O senso de humor é deslumbrante. Inteligente, no ponto, na hora, assertivo: amei. Eu não entendo nada do que você fala. Só sinto. Foi assim que assisti.

A delicadeza dos mudras me leva pra Índia, pro mestre do meu mestre e é o que me diz: não preciso mais de palavras pra ouvir tanta coisa.

Divulgação

www.agentesevenoteatro.com.br/em_cartaz/index/391/0/O_Primeiro_Dia_Depois_de_Tudo 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Comentários de quem assistiu a peça



Foto de Lenise Pinheiro.

Eu adorei mesmo a peça. O texto, os olhares, e as imagens que me criaram.Passei, naquela noite, algumas horas conversando a respeito...Foi bom. É bom ver bom teatro, feito por pessoas que sabem fazer, que sabem o que querem transmitir! Tânia Reis (Atriz)

Adorei a peça. Mexe. É uma faca no ventre que faz rir, uma lágrima que não quer cair.... Parabéns! Andreza Domingues, (Atriz).

Amei, amei porque é uma coisa que penso que não aguentaria fazer. Vcs foram brilhantes. Consegui enxergar tudo que vcs queriam dizer. Sinceramente não conseguiria fazer com tanto brilhantismo, diria que vcs foram audazes e maravilhosos. Diga a todos do projeto que mando um beijo no coração. A parte que mais amei foi vc rezando uma Ave Maria de maneira verdadeira (a que conhecemos é bobagem ).  Franscisco Carvalho (Ator)

Escrever sobre o que senti e vi em cena não conseguiria. É um espetáculo que toca cada pessoa de um jeito diferente e expressar emoções particulares é tirar do espectador a magia da descoberta, da reflexão. É muito bom quando vou ao teatro e não sei muito bem o que dizer sobre o que vi para as outras pessoas. Quando acontece isso é porque tocou a minha alma e qual a utilidade de eu expor qualquer coisa se  “essas outras pessoas” podem assistir e elas mesmas tirarem as suas conclusões? O que sei é que fico feliz de conhecer e ter amizade com muitos artistas que além do talento pensam na arte como uma forma de contribuir para um mundo melhor; se doam para que os trabalhos sejam bons e por isso merecem toda a atenção. Nanada Rovere (Amante do Teatro). 

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Primeiro Dia Depois de Tudo no Ronnie Von

 Hoje às 23 horas (por causa do horário eleitoral) na TV Gazeta, canal 11 na TV Aberta, canal 21 na NET, eu serei um dos convidados do programa “Todo Seu” do Príncipe Ronnie Von.  Vou falar de minha peça “O Primeiro Dia Depois de Tudo”, do recital que faço com músicas minhas e letras de meu pai, o dramaturgo Plínio Marcos, “Prisioneiro de uma Canção” e do filme que fiz com meu médico, Dr. Paulo Rosenbaum, “O Nome do Cuidado”. 

No Bar Duncan, o Teatro nos livraria... de tudo!

ou Tirando férias no Teatro, por Sérgio Rezende, psicanalista (espectador essencial)

Palavras que embebedam é o antídoto que Leo Lama inventa para o fim do mundo. Elas inventam o que faríamos. Criação ex-nihilo. Se o mundo não tivesse acabado, aconteceria tudo aquilo. Mas, ainda assim, livres de tudo isso, algo insiste em acontecer ali. E no ‘primeiro dia depois de tudo’ é o nada que surge como gerador de tensão. O nada a que levaria tudo o que Beatriz e Roberto teriam feito. Manietados, eles revelam o lixo que a liberdade de movimentos nos leva a produzir.‘Mortos’, causam desejo.Só depois de tudo se saberá qual terá sido o alcance do vôo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Palavras de um espectador essencial

O primeiro dia depois de tudo!
Por, Leandro Zuchetto (espectador)

Um tudo que poderia ser qualquer coisa, como uma decisão, um pensamento, uma mudança, uma promoção, uma demissão, uma morte, uma vida nova.

Um tudo que representa a degradação do ser como humano; a destruição do amor nas palavras daqueles que transformam o mais sublime dos sentimentos em dor, em culpa, em mágoa, em vício; a banalização de tudo aquilo que realmente importa em detrimento pelo fútil, pelo fácil, pelo fugaz.

O tudo plantado por uma mídia e publicidade que corrompem e matam aos poucos a esperança de todo aquele que não se enquadra em padrões criados e propagados por mentes sórdidas capazes de transformar o tudo em nada.

Nada! Absolutamente nada.

O primeiro dia depois de nada!

Do nada, do vazio que habita o peito dos frustrados, dos fracassados, daqueles que tanto batalham, que remam e remam sem parar, para no final morrer na praia. O vazio que sonda a mente daqueles que nunca se contentam e querem sempre mais e mais e mais, daqueles para quem o tudo nunca é suficiente, para quem o tudo é sempre nada, ilusão, mero engano.

E "para enganar o mundo é preciso ter a cara do mundo".

Enganar que mundo se o mundo não mais existe? Enganar qual mundo? O seu próprio mundo? O mundo criado pelos devaneios de uma mente sofrida e maculada pela podridão de pílulas coloridas, vermelhas e azuis? O mundo dos sonhos, das fantasias, dos contos de fadas? O mundo dos vampíros "porque aqui é sempre crepúsculo, não é mesmo Robert?"

O mundo, ou ao menos aquilo que um dia nos foi apresentado como mundo, se torna gradativamente um grande estoque de bonecos e bonecas fabricados em massa. Uma multidão de Beatrizes e Robertos em busca de fama, nas versões atriz, modelo, compositor, marido, mulher, traído, traidor e assassino.

E nós, que nos recusamos a fazer parte dessa legião de fantoches, nos transformamos em verdadeiros guerreiros, cegos e paralíticos, impotentes diante de uma guerra contra o tempo. Contra a falta de tempo, a ausência de tempo, a inexistência do tempo.

Porque o tempo não existe mais e sem tempo seguimos nosso caminho, usando máscaras com a cara do mundo para esconder o nosso sofrimento, a nossa dor, o nosso eterno desespero por não saber ao certo se somos humanos, anjos, demônios... Ou simplesmente suicidas caídos às portas da Livraria do Duncan ou no meio da festa do Bar do Teatro.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A estréia é só O Primeiro Dia

Hoje é O PRIMEIRO DIA DEPOIS DE TUDO que ensaiamos e sabemos que ainda há muito mais para descobrir e melhorar. Uma peça com grandes intenções nunca fica pronta. O artista deve estar sempre pronto para enfrentar o que dá errado, muito mais do que ficar contando com o que pode dar certo. Não é pessimismo, é espírito de aventura e risco: capacidade de reverter, re-criar. Estamos vivos e a vida é imprevisível. Ainda que muitos a queiram tornar segura, estável, pequena. Nós queremos a grandeza insegura de nosso pequeno palco.

Para que possamos exercer nosso trabalho, para que possamos nos aprimorar, para que possamos crescer como pessoas e como artistas, precisamos da sua presença.

Venha!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Filho de Plínio Marcos e Walderez de Barros

Foto minha.

Ser filho de meu pai, considerado por muitos, um dos maiores autores do teatro nacional de todos os tempos e filho de minha mãe, considerada por muitos, uma das maiores atrizes que já pisaram em palcos brasileiros, não garante meu talento. Nem eu mesmo posso garantir. Mas já que escolhi o mesmo ofício de meus genitores, ou pelo destino fui escolhido, e justamente por serem eles quem são, artistas com “a” maiúsculo, vocacionados, é que preciso fazer esforço grande para honrá-los. Se tenho ou não talento, não me cabe julgar. Assistindo seus sucessos e seus fracassos e vivenciando os meus próprios, aprendi que é preciso fazer, pelo menos, o esforço dos grandes artistas: o exercício de estar sempre dignificando cada trabalho com suor, sinceridade, respeito e amor ao que se faz. Espírito de presença: presença de Espírito. Mas, a um artista, talvez ainda caiba mais do que isso. Talvez seja preciso correr riscos pelos que não correm, talvez seja preciso enlouquecer pelos que não enlouquecem e fazer as perguntas que alguns não fazem e procurar luz onde não tem.

A realidade dentro de cada um de nós se apresenta mais como um prisma multifacetado em sentidos do que como algo que se fecha em definições estáticas, estanques, cristalizadas. Quem somos nós? Ser artista é amar o homem no que ele tem de mais elevado, mais virtuoso, ser artista é lutar contra a morte, armado com o melhor da vida. Assim eu penso. Quem sou eu?

Antes de começar cada atividade e já em execução, investigo minha intenção, meu objetivo, minha estratégia e minha ação. Não consigo fazer mais nada apenas por fazer, apenas para ganhar dinheiro, com intenção de ter qualquer tipo de lucro em cima da suscetibilidade do meu próximo ou apenas para satisfazer meu ego. Preciso estar impregnado de generosidade, como se eu estivesse sempre em dívida de escuta com os outros, como se nunca tivesse sido atencioso o bastante.

Para ser artista é preciso ter talento. Quero ser cobrado, criticado, assistido. Quero estar junto ao Ser Humano.

Eis minha face:

sábado, 14 de agosto de 2010

Convite

Este é mais um daqueles convites virtuais que pretende divulgar um trabalho próprio, sendo esta uma maneira importante, alternativa ao descaso e a falta de espaço que a mídia muitas vezes oferece ao que ela mesma não elege. Já de cara eu gostaria de dizer que, evidentemente, o meu convite não é mais importante do que os milhares de outros que recebemos diariamente via correio eletrônico. A importância, no caso, é a mesma que todos que divulgam um trabalho com orgulho e confiança dão às suas realizações. Acho que no fundo o que realmente importa para quem conclui uma obra e deseja compartilhá-la é ter a presença das pessoas queridas prestigiando algo que para quem realiza tem valor sentimental e artístico e que gostaríamos de dividir com aqueles que estimamos.

O que quero divulgar é minha nova peça “O PRIMEIRO DIA DEPOIS DE TUDO”. Um exercício dramático que eu, Leo Lama, escrevi e dirigi e que teve co-direção da Joana Levi, da Casa Laboratório. Atuam na peça os atores Priscilla Carvalho e Leonardo Ventura, jovens atores que vocês precisam conhecer, pois são éticos, vocacionados e se entregam com dedicação ao que fazem.

Por que tenho tanto orgulho desse trabalho? Pelas pessoas envolvidas e porque é mais um passo no caminho de uma pesquisa que tenho chamado de O Ator em Repouso, uma proposta para uma nova dramaturgia e uma encenação que a acompanhe. Nada que vá mudar o mundo ou o teatro, apenas uma contribuição para que reflitamos sobre o fazer artístico.

DIA 19 DE AGOSTO, 21:30h no TEATRO IMPRENSA, é a nossa estréia. O que peço é que você, que está recebendo este convite, faça um esforço para estar presente, o que para nós seria de uma relevância inestimável e seria mesmo imprescindível para que pudéssemos trocar e nos sentir estimulados a continuar em busca de um diálogo artístico, sua ética, sua prática.

Estaremos todos lá, esperando você. Por favor, venha! Agradeço o esforço e a presença, de hoje até a eternidade.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Empenho

Falta uma semana para a nossa estréia. Já estamos ensaiando no pequeno palco onde faremos a peça, com todo o conforto que o Teatro Imprensa nos proporciona. Lá todos são muito atenciosos, profissionais, gentis. A pequena Sala Vitrine é dada a ousadias. Espaço inusitado, íntimo, perfeito para o nosso experimento. A Sala é uma opção para quem quer buscar experiências fora do comum, do padrão. Combina com nossa montagem, com o repouso que propomos. Em nosso exercício é o dentro que se mexe.

Os atores estão trabalhando duro, lutando contra os vícios, contra os perigos que assombram essa bela vocação. É preciso estar crível, é preciso dizer com sinceridade a partir de uma ação interior e não do que é dito. É preciso fazer o corpo neutro de minha proposta virar tela, é preciso fazer do olhar um projetor de imagens. Corto o texto quase todo dia. É um desafio estar sempre redecorando as passagens, as deixas. Procuramos uma precisão cirúrgica. Uma exatidão essencial.

Venham conferir nosso empenho.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Ator é uma boneca sem braço

Foto minha, tirada no hospital de coisas lúdicas, ao lado de onde ensaiamos.










Os grandes atores já estão quebrados antes de nascer. Suas vidas são generosamente marcadas por seu vasto repertório de entrega, de riscos, de perigos emocionais e físicos. Há uma técnica, aquilo que os faz funcionar: pilha. Um ator que trabalha a partir de si mesmo está sempre esgotado, de um cansaço metafísico, largo, cheio, porque ser ator é apagar-se sem sumir, é existir para ser outro. Seu corpo é lúdico, ele está em um jogo que mostra e esconde. Ser ator é dar forma à saudade, como um braço amputado que ainda coça. Ele não deve se envolver com as emoções do personagem, mas deve envolver alguém que não existe em um casulo de energia e calor, produzindo vida, e isso é emocionante. Um ator vive por alguém. Ele é um útero que está sempre pleno. Um ator deve estar o tempo todo se preparando. Belo é ver um ator indo para a enfermaria com a alma lavada: lá, entre os cavalinhos de pau, os trenzinhos elétricos, as caixinhas de música, os autoramas, lá entre os brinquedos desmontados, o ator é o mais encantado.

Iluminar

Fábio Retti fará o desenho de luz da nossa peça. Ganhador do Prêmio Shell pela iluminação de “O Homem Provisório” com direção de Cacá Carvalho, atualmente iluminando o espetáculo do coreógrafo japonês Tadashi Endo “MA BE MA”, Fábio trabalhou com Pina Bausch e muitos outros grandes artistas dos palcos. Agora nos honra com o derramar de sua poesia luminosa sobre nossa pecinha.

sábado, 7 de agosto de 2010

Planos

Foto de Kity Feo.

Tomássemos o último avião e a boca do céu quase fechasse. Viajássemos assim no sorriso que restasse das trevas dos últimos dias. Aonde iríamos, meu amor? Cruzássemos o topo da cruz elétrica ou parasse assim para sempre nosso aeroplano. Para sempre assim nossos planos, flutuando plenos entre o pior de nós e o que voasse. Sem que tais vapores escuros nos tocassem, em vôo suspenso, em repouso eterno.

Nunca pousássemos nos dentes das fumaças.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Saudade no Repouso

Foto de Felipe Hellmaister.

Presente. O Ator em Repouso é aquele que age sem movimento, é aquele que representa em descanso. Em uma época em que há uma necessidade quase bestial de fazer, de mostrar serviço, de se ocupar, o Ator em Repouso é uma tentativa de resgatar o Ser, aniquilador de todas as ações inúteis. Estar de corpo presente. Estar presente no corpo.

Pássaro. O Ator em Repouso busca inspiração no Tao-Te-King. O intérprete deve procurar uma ação interior e uma suspensão de gestos e movimentos. O Não-Agir, o Wu-Wei, não é inércia, mas sim a plenitude da atividade dentro de si. O Tao é eternamente sem agir, no entanto, tudo é feito por ele. A ação deve seu valor à serenidade que a alimenta. Os atores das minhas peças não estão parados, estão em repouso. O Repouso é o senhor do movimento, assim como o Não-Agir é senhor da ação. Longe de ser uma estátua, o Ator em Repouso representa o Sujeito Vazio, estrutura de todas as possibilidades.

Imagens. Diz Luiz Bunier: a ação física é a poesia do ator. Digo: a parada da ação física no ator é poesia para a platéia. O excesso de informação e de facilidades de armazenamento de memória em computadores, agendas e tais, além da maciça carga de informação visual, causa uma inibição na imaginação. O Ator em Repouso é o resgate da imaginação poética. O Ator em Repouso busca a interioridade, muito mais do que a imobilidade. Resgatar e devolver ao homem seu sentido interior é a função do artista. Duas etapas são fundamentais para essa representação: enriquecer-se interiormente e transmitir, ou compartilhar, esta riqueza.

O Futuro do Pretérito. O presente é onde a ação se passa para o passado. O futuro do pretérito é onde tudo poderia acontecer ou não, é a eterna possibilidade, a eterna potência. O ato mata a ação, o repouso conserva a pureza intrínseca em cada possibilidade de agir. Qualquer definição é a morte das outras possibilidades.

Saudade. O Ator em Repouso é o corpo em Saudade. Saudade do próprio corpo, saudade do corpo primordial, o corpo de argila, o corpo de Adão, o corpo de luz, simbólico, formador de todos os corpos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010



A palavra “Novíssima” eu peguei emprestada do meu amigo e médico Dr. Paulo Rosenbaum, que se refere à “Novíssima Medicina”, nome de um de seus livros, como uma medicina que incorpora o conceito de que todo tratamento deve ser baseado em cuidados pensados para cada um, privilegiando a singularidade que define cada ser. O termo me soa como uma atualidade além das novidades, além das modas, o mais atual do espírito de quem está agora, frente a frente, lado a lado. A interlocução viva. E esse conceito tem muito a ver com o diálogo que o teatro pode provocar: uma renovação a cada fala, a cada gesto, uma troca vivificada entre ator e espectador, entre os seres. O termo “Companhia”, muito usado para definir um grupo, mas geralmente esquecido do que carrega em seu útero, também me parece perfeito. Os generosos viajantes antigos quando em viagem fossem passar por regiões muito pobres, em que pedintes esfomeados fariam qualquer coisa por comida, lembravam de levar provisões a mais para distribuir entre os necessitados. Assim eram chamados de Compani, aqueles que têm pão a oferecer. Os Companheiros. Eis então nossa “Novíssima Companhia”, uma oferta do pão mais singular, saído ainda agora do forno de nossa alma.

O que temos é um projeto de renovação, uma tentativa de reunir gente para falar de arte, de vida, de educação e cuidados. Somos um grupo de pessoas de diversas áreas, que se reúne uma vez por mês para trocar idéias e experiências. O grupo é pequeno e acreditamos que possa crescer, não demais, para que possa haver um diálogo mais profundo. O que importa não é a quantidade de pessoas, mas a qualidade do intercâmbio entre os participantes. Assim surge também o projeto teatral. Procuramos uma sala de 50 lugares, justamente pensando em uma interação mais íntima, mais próxima.

Há 6 anos, desde minha peça “O Perdido Coração do Cristo”, comecei uma pesquisa, junto com minha eterna parceira, Andreah Dorim, de uma arte que busca as estruturas sagradas, não exatamente temas religiosos, mas os alicerces estruturais que os sustentam e uma intimidade mais positiva, menos crítica, que incentive mais do que destrua. Na verdade, eu já buscava isso desde 1996, quando tinha um espaço no Bexiga e lá tínhamos um grupo de estudos com nossa professora de Astrologia Medieval e dos Sentidos do Caleidoscópio, Beatriz Machado, e com nossa professora neurolinguista, Olga Modesto. Mantive esse espaço por 3 anos e segui em Companhia Solitária. Só agora, em 2010, me sinto realmente apto a compartilhar. Passei de minha fase egóica e narcisista e agora preciso muito fazer com os outros.

A montagem da peça “O Primeiro Dia Depois de Tudo” tem o intuito de começar a juntar artistas com ideais parecidos, ou, no mínimo, com posturas parecidas. Essa montagem se deve ao esforço hercúleo de Priscilla Carvalho, que foi criando forças e coragem para erguer uma produção, coisa que não é fácil nos dias de hoje. Foi uma necessidade vocacional dela que me fez acordar mais uma vez para querer fazer teatro. Assim pude compartilhar minha experiência e aprender de novo do novíssimo. Vieram dar em nossa praia dois belos barcos, carregados de arte e vocação, advindos do Núcleo Casa Laboratório, dirigido por Cacá Carvalho; Leonardo Ventura e Joana Levi, jovens artistas que, comigo e com Priscilla, estão enfrentando as agruras do mar revolto de uma produção teatral sem apoio financeiro. Mas, uma das coisas ainda prazerosas em fazer teatro, é ter a oportunidade de promover encontros de generosidades. Por exemplo, o que seria de nós se minha irmã, Ana Barros, Paulo Prestes Franco e Dani Franco, Thaís Gurgel, Pedro Alcântara, Felipe Hellmaister, Fabio Retti, Zuzu Abu e outros, não estivessem nos ajudando?

Nosso projeto tem a pretensão de ser uma semente, uma pesquisa de um novo caminho, embora seja voltado para o público, também marca uma fase de transição para nós. Aonde será que vamos dar?

Vem aí!