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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Bardo Teatro

Quero agradecer aos que têm nos prestigiado. As apresentações, ainda irregulares, estão, mesmo assim, provocando interessantes respostas de quem assiste. Nossa peça é como um filho novo, ainda engatinhando. Só a exibimos quatro vezes, mesmo assim os espectadores estão tratando nossa jóia com carinho e respeito. Ficam para conversar ao final, comentam, indicam, trocam.

A dramaturgia que estou propondo é um diálogo aberto, que evoca, pergunta, abre muito mais do que encerra. Minha direção, somada ao olhar de Joana Levi, propõe muito mais um jogo de imaginação do que de visão. As asas são telas, as rodas das cadeiras são esferas de proposições espirais.

Para mim, a peça nunca está boa, nunca está acabada, nunca disse tudo ou alcançou um nível satisfatório. Cada vez que assisto, sinto que algo falta, que algo não foi realizado, que a perfeição está longe de ser atingida. Me sinto em movimento interno, conversando abertamente com o que estamos criando. Quero mais, quero menos, quero outra coisa, sem perder o que está sendo feito. A arte é sempre um processo, não de insatisfação e autocrítica, mas de busca e desafio. É preciso se arriscar, querer mais, dar mais. É preciso viver o jogo de dentro: necessidade e precisão.

Evoco símbolos, evoco mistérios, evoco emoções que buscam um centro e não a lamúria dos perdidos em autocomiseração. Como artista quero destruir o que se está destruindo e quero edificar o elevado.

Na Tradição Tibetana a palavra “Bardo”, que vem da expressão “Bardo Thodol”, geralmente traduzida como “O Livro Tibetano dos Mortos” e mais precisamente poderia ser também traduzida por “O Livro da Escuta Entre Dois”, é citada na peça em forma de trocadilho a ser desvendado. Os personagens se referem a uma festa que acontecerá no “Bar do Teatro” ou no “Bardo Teatro”, ou seja, o lugar das representações transitórias. Minha peça, entre outras coisas, fala sobre o limbo, a transição, o lugar de passagem em que se encontram os que ainda não se encontraram. Não é exatamente onde estamos? Encontrar-se será mesmo importante? E se a questão for: no que devemos nos perder? Percebo que muitos estão perdidos na busca do próprio rabo.

Muitos dizem que é preciso “acreditar em si mesmo”, e se, o que fosse preciso fosse acreditar no Si Mesmo e não em si mesmos? Eis a estrutura vazia, grávida de todas as possibilidades.

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