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sábado, 25 de setembro de 2010

O Incógnito

por Joana Levi

Hoje assistindo a apresentação de “O primeiro de dia depois de tudo” tive uma experiência rara no meu percurso artístico. Pude ver num trabalho em que colaborei na construção, um outro desconhecido. Como se o espetáculo, tomando vida própria, se revelasse dizendo a que veio, fazendo entrever sua face oculta, seu fulcro, sua nebulosa. Logo nos primeiros dez minutos uma palavra me surgiu na mente, como um letreiro luminoso: Incógnito! Como se a ação chave do espetáculo fosse a tentativa perplexa desses personagens, Roberto e Beatriz, de tatear sentido para algo indizível. Eles falam sem parar como que desconstruindo a linguagem. O mistério que tanto buscávamos nos ensaios se fez presente.

O incógnito é algo que insiste em não se revelar, em não se deixar explicar, descrever. Pode ser apenas rodeado. A fala, a cognição não o contém. Os atores têm a tarefa hercúlea de manter vivo e se relacionar com este buraco negro dentro do qual os personagens estão mergulhados. Nessa busca incessante cada frase é “re-significada” e “des-significada”. Cada palavra é significante. Toda afirmação e toda exclamação surgem de uma interrogação que não se cala.

Por outro lado, isso tudo estava lá desde o começo, no texto e na concepção inicial, mas hoje deixou de ser conceito, tornou-se vivente.

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