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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Grande Obra

Foto de Lenise Pinheiro

Nosso espetáculo é uma das experiências mais loucas que já tive no teatro. Parece ser um caleidoscópio. Cada um acha uma coisa, cada hora sai de um jeito, nunca parece a mesma peça, nunca diz a mesma coisa. Uma hora parece que é para jovens, mas os mais velhos em certos dias se emocionam, as respostas se misturam. Hora está técnico, frio como um alemão comendo salsicha em Veneza. Certas vezes derrapa no dramalhão mexicano. Erro. Como convencer cada um que vai assistir que não é aquilo que viu o que queremos. Cada um se apropria do que viu. Responde, interage. O que queremos? Quero buscar uma transcendência, exijo isso dos atores, que já fazem demais e se esforçam para cumprir. Como atingir o não-esforço, o não-agir, o Tao? É uma busca árdua. É um lugar novo. É tudo dentro. Tudo nos desmascara. O Ator em Repouso revela as precisões e as carências. Expõe.

Mas o ator deve ser um bruxo, um mago. Alguém que direciona as energias. Alguém que não está subserviente nem aos próprios humores, nem aos humores da platéia. Alguém que conduz as energias dentro do ritual proposto. Alguém que atravessa as agruras, alguém que retém as negatividades da platéia e as devolve, de alquímica forma, expurgadas. Tudo se resume em uma única palavra: trabalho.

Quem não tem o compromisso com se aprimorar no que faz, não fará nada com compromisso. Para isso lutamos e a função da arte é justamente gerar a necessidade em cada um, quem realiza e quem contempla, de ter a Grande Obra em si.

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