Leiam texto sobre Plínio Marcos aqui.

terça-feira, 3 de agosto de 2010



A palavra “Novíssima” eu peguei emprestada do meu amigo e médico Dr. Paulo Rosenbaum, que se refere à “Novíssima Medicina”, nome de um de seus livros, como uma medicina que incorpora o conceito de que todo tratamento deve ser baseado em cuidados pensados para cada um, privilegiando a singularidade que define cada ser. O termo me soa como uma atualidade além das novidades, além das modas, o mais atual do espírito de quem está agora, frente a frente, lado a lado. A interlocução viva. E esse conceito tem muito a ver com o diálogo que o teatro pode provocar: uma renovação a cada fala, a cada gesto, uma troca vivificada entre ator e espectador, entre os seres. O termo “Companhia”, muito usado para definir um grupo, mas geralmente esquecido do que carrega em seu útero, também me parece perfeito. Os generosos viajantes antigos quando em viagem fossem passar por regiões muito pobres, em que pedintes esfomeados fariam qualquer coisa por comida, lembravam de levar provisões a mais para distribuir entre os necessitados. Assim eram chamados de Compani, aqueles que têm pão a oferecer. Os Companheiros. Eis então nossa “Novíssima Companhia”, uma oferta do pão mais singular, saído ainda agora do forno de nossa alma.

O que temos é um projeto de renovação, uma tentativa de reunir gente para falar de arte, de vida, de educação e cuidados. Somos um grupo de pessoas de diversas áreas, que se reúne uma vez por mês para trocar idéias e experiências. O grupo é pequeno e acreditamos que possa crescer, não demais, para que possa haver um diálogo mais profundo. O que importa não é a quantidade de pessoas, mas a qualidade do intercâmbio entre os participantes. Assim surge também o projeto teatral. Procuramos uma sala de 50 lugares, justamente pensando em uma interação mais íntima, mais próxima.

Há 6 anos, desde minha peça “O Perdido Coração do Cristo”, comecei uma pesquisa, junto com minha eterna parceira, Andreah Dorim, de uma arte que busca as estruturas sagradas, não exatamente temas religiosos, mas os alicerces estruturais que os sustentam e uma intimidade mais positiva, menos crítica, que incentive mais do que destrua. Na verdade, eu já buscava isso desde 1996, quando tinha um espaço no Bexiga e lá tínhamos um grupo de estudos com nossa professora de Astrologia Medieval e dos Sentidos do Caleidoscópio, Beatriz Machado, e com nossa professora neurolinguista, Olga Modesto. Mantive esse espaço por 3 anos e segui em Companhia Solitária. Só agora, em 2010, me sinto realmente apto a compartilhar. Passei de minha fase egóica e narcisista e agora preciso muito fazer com os outros.

A montagem da peça “O Primeiro Dia Depois de Tudo” tem o intuito de começar a juntar artistas com ideais parecidos, ou, no mínimo, com posturas parecidas. Essa montagem se deve ao esforço hercúleo de Priscilla Carvalho, que foi criando forças e coragem para erguer uma produção, coisa que não é fácil nos dias de hoje. Foi uma necessidade vocacional dela que me fez acordar mais uma vez para querer fazer teatro. Assim pude compartilhar minha experiência e aprender de novo do novíssimo. Vieram dar em nossa praia dois belos barcos, carregados de arte e vocação, advindos do Núcleo Casa Laboratório, dirigido por Cacá Carvalho; Leonardo Ventura e Joana Levi, jovens artistas que, comigo e com Priscilla, estão enfrentando as agruras do mar revolto de uma produção teatral sem apoio financeiro. Mas, uma das coisas ainda prazerosas em fazer teatro, é ter a oportunidade de promover encontros de generosidades. Por exemplo, o que seria de nós se minha irmã, Ana Barros, Paulo Prestes Franco e Dani Franco, Thaís Gurgel, Pedro Alcântara, Felipe Hellmaister, Fabio Retti, Zuzu Abu e outros, não estivessem nos ajudando?

Nosso projeto tem a pretensão de ser uma semente, uma pesquisa de um novo caminho, embora seja voltado para o público, também marca uma fase de transição para nós. Aonde será que vamos dar?

2 comentários:

Leonardo disse...

Que bela notícia! Inspirador...

Daqui de Niterói-RJ, torço por vocês!

Abraços à Novíssima Companhia!

Fernanda Conrado disse...

Vocês darão na singularidade de novas e maravilhosas experiências. Jaya!