Leiam texto sobre Plínio Marcos aqui.

domingo, 25 de julho de 2010

Saber ler uma peça de teatro

Um texto de teatro precisa ser lido de dentro dele mesmo. Existe muita ansiedade por parte dos atores inexperientes quando vão ler uma peça. Muitos já saem imprimindo emoções e seus cacoetes pessoais antes de entrarem no universo que a peça pretende criar. Saber respeitar a pontuação antes de sair se esganiçando em emotividades e, principalmente, saber ler a obra de dentro, é pré-requisito básico. Para que a obra possa ser lida de dentro, o texto precisa ser bom, não é verdade? Ou seja, a peça precisa possuir um “dentro”. Este “dentro” é mais do que aquilo que é chamado de sub-texto, embora o contenha, é uma correlação dramática que possibilita que os personagens tenham ações interiores, sem precisarem ficar andando pra lá e pra cá ou pegando objetos e gesticulando. As coisas acontecem no interior dos personagens e é de lá que deve vir a leitura; procurando entender as ações que impulsionam os acontecimentos na mente e no coração simbólico daqueles que são representados. Não é ler em “branco”, sem nenhuma inflexão, é ler tentando ser aquele que fala: o personagem. Errando ou não, mas sempre agindo e nunca procurando entender ou interpretar a fala. O ator age, o ator é falado em verbo de ação.

Muitos atores encontram dificuldades para ler ou “entender” um texto teatral. E começam a culpar o texto, no sentido de o mesmo ser chamado de “difícil” ou “diferente”. Mas a verdade é que um texto que contém personagens, sempre será diferente e difícil, pois é uma proposta para que você deixe de ser você e “seja” outro. Estar dentro do texto ou do contexto é não saber ou entender o que está acontecendo, é fazer acontecer, compreendendo assim a ação causadora e não fazendo uma reflexão mental do que é feito. Para um ator, compreender é agir. Assim se descobre se uma peça de teatro é eficiente ou não, descobrindo se ela proporciona ação dramática para o ator, ou se ela é apenas literatura, portanto, material inadequado para o teatro.

Em nossa vida, pouco é o que vivemos a partir do interior, a partir da ação pura, aquela que engloba todas as ações, o chamado não-agir, o Tao. Um lugar menos emotivo e mais prático, mais singular, no qual o sopro de nosso ser pode ser mais venturoso e menos covarde, mais ativo e menos defendido atrás de formulações psicológicas.

Aqui um exemplo de uma jovem intérprete lidando com o processo de entrar e viver de dentro o que o autor da obra quis dizer:

http://www.youtube.com/watch?v=tOR8hyGAQAc&feature=related

3 comentários:

Leonardo disse...

Muito interessante! Hoje me pergunto até que ponto realmente a emoções são importantes para o texto teatral e a peça de modo geral, será que não haveria espaço para o teatro suscitar outra coisa senão emoções?

Leo Lama disse...

É uma discussão interessante, Leonardo. Eu penso que o que cada vez mais se torna desgastado é o psicológico, ou seja, o drama que mostra uma trajetória emocional-psicológica dos personagens. Nesse sentido, acho que tudo já foi feito ou experimentado. Acho que a Tragédia agora (sempre) pode ser um caminho, no qual as emoções são mais essenciais, mais arquetípicas, e o trágico pode ser mais abrangente que o dramático. Eu tenho chamado minha peça de Tragédia Poética, porque em vez de fazer as rubricas (as indicações de ação), o ator diz para platéia o que faria se fizesse. Meu intuito é criar imagens, abrir o espaço poético, propor uma interativamente imaginativa. É difícil hoje encontrar o novíssimo, ou seja, uma atualização que fale ao coração do público de um jeito menos mofado , mais além da novidade ou do "moderno". Sigamos tentando.

Abraço

Fernanda Conrado disse...

Se não existisse o Medo talvez as emoções pudessem ser substituídas, mas como tocar o espectador se não pelas emoções? As pessoas tem medo de observar e refletir aquilo em si mesmas, medo de analisar quais as emoções que um texto estabelece em seus corpos e entender o porque disso.
Quanto a leitura de "dentro" acredito que essa seja a única forma de uma comunicação real entre ator e espectador, o sentir e o analisar e talvez venha dai a dificuldade que alguns atores tem de representar determinados textos, visto que para isso precisarão do "dentro" que nem eles mesmos sabem como perceber.