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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Labor Ator

Joana Levi ensinando os atores a voar. Foto de Leo Lama.

Sobre o Corpo Imaginário
Por Joana Levi


Fui convidada pelo autor e diretor Leo Lama para fazer co-direção e preparação corporal de seu novo espetáculo "O primeiro dia depois de tudo". De cara encontrei, dentre outros, o desafio de trabalhar sob a condição de seu manifesto "O Ator em Repouso", que coloca para os atores a tarefa da imobilidade exterior. Despido dos recursos da narração e da dramatização através das ações performadas pelo corpo, o ator se vê na condição essencial de fazer ver tudo com o mínimo de recursos. Tem a sua disposição o texto, as ações dramáticas nele contidas, sua presença imóvel que deve fazer viajar por outros mundos e paisagens aqueles que o assistem. O expectador desse ator em repouso é como se fosse cego, e assiste ao mundo invisível que deve transbordar do interior dos atores, palco real dessa cena. Dada esta condição surgem as perguntas: O que exercitar? A capacidade de ficar uma hora imóvel? Isto não é por si só tarefa fácil, mas não toca o cerne da questão. Que corpo é para o ator necessário trabalhar? A pesquisa que faço por não encontrar ainda nomenclatura que a defina é comumente chamada de preparação corporal, mas não se trata de um trabalho sobre o corpo e sim a partir do corpo. Do corpo não somente enquanto funcionamento biológico, mas enquanto canal, matéria viva, sensível, feita de imagens, memórias, sons, histórias, identidades, cores, sentimentos, que é, enfim, a tela pintada - obra inacabada - do que somos, do que queremos e não queremos ser. Se o corpo é esta tela, para o ator o desafio é emprestar as cores de seu ser para a "Personagem" ou "Persona" que se fará ver e ganhará vida diante dos espectadores. Para tanto, os exercícios que proponho aos atores não tem por objetivo tornar o corpo hábil para cumprir determinadas tarefas e sim acordar o corpo da imaginação, das imagens, dos sentidos, das vozes, do inconsciente e da memória. É sobre este corpo invisível que estamos trabalhando com os atores Leonardo Ventura e Priscilla Carvalho.

Labor Ator: Joana me foi apresentada e foi rápida minha identificação. Estudiosa de teatro, com um treinamento corporal fora do comum, está há mais de cinco anos trabalhando com Cacá Carvalho e Roberto Bacci na Casa Laboratório. Em princípio ela seria minha assistente, mas, depois de anos de individualismo, estou aprendendo a compartilhar, a querer fazer novas parecerias. Muitos foram me educando pelo caminho, principalmente minha professora, a diretora e mestra em teatro, Andreah Dorim. Então, agora chamo todos de co-diretores. Ainda que de certa forma, por ser o autor, eu tenha alguma ascendência, em nosso processo vejo a preparadora corporal, os atores, o fotógrafo, a figurinista, Pedro Alcântara, nosso professor pardal, Zuzu Abu, nossa mestra em Mudras, e quem mais chegar, como co-diretores. Cada um é gestor de si mesmo e se a mim cabe a presidência, o que faço é lembrá-los de seu melhor. Há muita gente de talento que não conhecemos e muita fantasia sobre o que os outros pensam, quando estamos distantes. Precisamos nos aproximar, ampliar horizontes, compartir. Uma andorinha só não faz verão, diziam as avós de um mundo mais encantado.

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