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quinta-feira, 15 de julho de 2010

O ator como modelo de tecnologia

Leonardo Ventura: o ator faz dentro. Foto de Leo Lama. 

A tecnologia é pura ilusão. Toda tecnologia vem da frustração com a vida que se leva. Vem da busca de melhorias. Os milhares de meios de comunicação não melhoram a própria, e mesmo o avião não é garantia de que se vá chegar mais rápido a algum lugar, como bem nos mostram algumas companhias aéreas. Há uma fantasia criada pelas indústrias de que o progresso nos favorece, quando na verdade tudo não passa de entretenimento de fuga que uma alma mal direcionada produz. Quanto mais se cria em dispersão e variedade, menos se acessa o essencial. A vida nas cidades é insatisfatória, frustrante, de péssima qualidade. A vida no campo é tediosa, regada a álcool, apequenada, porque a educação não mais conecta o homem com as forças da Natureza, mas com o desejo de progredir, de fazer sucesso. Não me sigam pensando em generalizações, mas pensem que se falo de maneira hiperbólica é para pintar o quadro em cores vivas com a intenção de lembrar o que, cada vez mais, perdemos em nós mesmos.

A arte, emburrecida, se alimenta das novas mídias, da modernidade, das tecnologias, como se o que precisasse ser visto fosse o mundo e não a vida. O mundo é uma coisa, a vida é outra.  

Dentro dessa pintura esfumaçada, de excesso de informação e meios, de repetições de notícias e fatos, surge a importância da figura do ator. Qual? Aquele que representa o Ser Humano em cena.  Não os personagens que criamos envolvidos em psicologia e mazelas cotidianas, mas as virtudes e as qualidades que todos nós possuímos em potência. A isto, assim eu penso, deve se prestar a Arte: representar temas elevados, que inspirem, que ergam as cabeças dos espectadores. Chega de enfiar o dedo na ferida, de criticar essa sociedade que é inteirinha criticável. O teatro é o homem diante do homem, e o homem, assim que quiser, pode estar livre das ilusórias grades sociais que o cercam. O teatro deveria ser um espaço reservado para que o homem se recorde de suas potencialidades e não para que artistas acusem o mesmo de levar uma vida medíocre. Os artistas não devem procurar a liberdade, mas o compromisso, com a generosidade, com o bem que podem proporcionar ao próximo.  Não é uma proposta de peças boazinhas, evangélicas, bem comportadas, é uma proposta de que se mostre as possibilidades de se desembaraçar das garras sociais e se entregar para a melhor ética.

A melhor tecnologia para o ator, assim eu penso, é ser capaz de criar espaços no intimo dos espectadores, a partir do espaço criado em si mesmo. A verdadeira tecnologia é a grandeza do Homem Universal, aquele que habita o coração de todos nós. Conhecer o Modelo dos modelos é a capacidade misteriosa. É o progresso do Vazio que pode nos tornar maiores e não o avanço do muito. A via do ator não deve ser traçada. Conhecer o Não-Saber é elevação. 

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