Leiam texto sobre Plínio Marcos aqui.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Papel do Espectador de Teatro

O sistema precisa que as pessoas se empreguem e tenham cargos e profissões, o mundo precisa de gente, assim como o teatro. Estava aqui pensando que talvez não baste nascer para que já se seja Ser Humano. Talvez seja preciso tornar-se um.

O teatro nesses tempos pode ter um papel fundamental, assim eu sonho. Talvez o teatro seja a salvação para uma época de presenças distantes e corpos virtuais: um lugar de refúgio, um lugar reservado, um local de criação. O teatro pode ser protegido pelo que é mais Justo e mais Belo, pelo Bem. Talvez o teatro seja o lugar no qual o homem possa nascer e seguir sendo humano. O teatro pode representar a humanidade viva em Arte e Virtude, em propostas que podem ir muito além do entretenimento.

Qual papel representa o espectador de teatro? Quem é a gente que vai ao teatro?

Não pensem nas vantagens que o teatro pode trazer para o seu dia a dia em termos de benefícios práticos, em termos de desinibir os funcionários de uma empresa ou ocupar a terceira idade ou produzir fantasias televisivas em jovens deslumbrados e tanto mais para o que se usa o teatro. Pensem no que a arte teatral pode trazer para a existência, para a vida. Mas pensem em contemplar o teatro e não em ser mais um a usufruir dos benefícios do produto. Talvez o teatro não seja um programa, uma opção de lazer, um lugar para matar o tempo. Talvez no teatro se possa descobrir o que é arte.

Depende do espectador, depende do que ele quer assistir.

Tornar-se humano pode ser a recordação de que se é de argila. E se eu entendo alguma coisa penso que argila talvez possa ser luz. E em meu sonho louco penso que o ator de teatro possa nos lembrar que podemos ser homens de argila.

Quem sabe o espectador possa ir ao teatro procurando os grandes temas, aqueles que falem do Bom, do Belo, do Justo. Quem sabe possa haver travessias simbólicas e não fragmentos psicológicos. Quem sabe o espectador ativo possa mudar as peças que estão em cartaz, mudar a programação. Quem sabe se ele não seguisse apenas o que as mídias e suas mesmices recomendam. Quem sabe o espectador consiga ter a sua própria vontade, a sua própria intenção e, quem sabe, talvez nem toda Maria vá com as outras. Talvez possa existir um espectador que exija dos artistas do seu tempo representações firmadas em virtude e caráter mais elevados. Quem sabe se o que se buscasse fosse virilidade espiritual.

4 comentários:

Leonardo disse...

É interessante que o Shiva-Sutra fale do teatro tocando em seus três pontos de referência: o ator, o palco e o espectador. Não tive como não lembrar ao ler este seu últimos posts!

Coloquei os sutras traduzidos aqui (para quem quiser ver):

http://www.leonardovalverde.com/shiva-sutra-teatro-ator-metafisica-sanscrito/

Abraço.

Leo Lama disse...

Eu já tinha lido este seu post. Tem muito a ver, é muito bom. Obrigado.

Adriana disse...

Muito bons ambos os posts de ambos os Leonardos.

Fernanda Conrado disse...

As pessoas precisam perder o medo, por isso ainda optam pelo não belo, não justo e o não pensar. Assumir que se quer ver o que se É, ou então abrir-se a transformação, implica deixar de ser que sem acha ser, ou seja, a ilusão que se vive. Sem dúvida alguma o teatro bem realizado e de conteúdo tem o papel de ajudar o espectador a optar pelo não Medo, afinal é apenas uma palavra de quatro letras; e então assumir-se como um ser em constante mudança e aprendizado com altissimo poder de discernimento e responsabilidade sobre seus pensamentos e consequentemente suas ações.