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sábado, 23 de outubro de 2010

O Leopardo das Neves

A peça "O Primeiro Dia Depois de Tudo", pra mim, é como um mantra orgânico. O corpo dos atores nos conduz a uma viagem pelas sensações. Gal Oppido, fotógrafo, espectador essencial, depois de assistir pela segunda vez.

Durante quase todo o ano o animal, no Himalaia, fica afastado de duas semanas a três dias de distância do outro de sua espécie. Cada um em seu território, buscando a sua caça, cuidando da sua fome. Existir solitário. Pernas fortes, patas largas, músculos cobertos por pele grossa e pêlos malhados que se misturam com as rochas quando não está nevando. Na brancura do gelo é a sombra amarelada e lânguida, salpicada de estrelas escuras.  Vida a espreita da carne. Até que abocanha: sangue no tapete alvo. Mordidas. Comer e acasalar. No tempo do acasalamento dá-se então a dança erótica dos grandes felinos. A fêmea esfrega o rosto nas pedras e urina exalando seu desejo. Sobe a íngreme jornada da espera. O macho desavisado sente o cheiro. Agora é viver para penetrar. Ainda desorientado ele precisa de mais sinais. Ela, no mais alto da montanha clara, geme o canto do chamado. Todos, de todas as laias e raças, sentem o coração tremer. Mas, o Leopardo das Neves, sabe que é com ele. Babando, em subida afoita, ele a encontra cheirando corrimento denso. Dançam no cume o balé dos corpos de sede, pele com pele, pêlos ouriçados e tudo é inesperadamente doce entre esses animais que destroçam espinhas, cravam dentes em vísceras e quebram pescoços. Ele a penetra.

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