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domingo, 3 de outubro de 2010

A Dança

Leonardo Ventura e Priscilla Carvalho executando Mudras tradicionais indianos, em coreografia de Zuzu Abu. Foto de Heloisa Bortz.

E começou tudo no escurinho do cinema, ops!, digo, no teatro. Uma colcha de retalhos musicais é ouvida no escuro contando uma história que vem dos anos 60 até os dias de hoje. E, ao mesmo tempo, tal história não é contada DE FATO. Que bom! É nos vazios e nos intervalos que as estórias são mesmo contadas. (E por que é tão difícil conviver com a dúvida e com a angústia hoje em dia?).

A luz acende e aparecem os personagens "presos" em suas cadeiras de rodas com asas em suas costas. Isto é forte. Essa sensação de impotência, de poderem voar, e ficarem ali, estancados. Mas... Que lindo! Mesmo assim, mesmo depois de tudo (o que foi tudo que aconteceu que os fez tetraplégicos? pouco importa.) eles ainda podem VOAR!

O tempo passa e vê-se a incomunicabilidade: eles falam um com o outro, e muitos são os diálogos possíveis, mas um fala A o outro responde B.  No entanto, é justo no momento não verbal que eles de fato se comunicam. Nos gestos finais,  no silêncio dos Mudras, eles  "falam" a mesma coisa, a mesma língua. É a dança que comunica além do verbo, sempre. Na dança e no silêncio, sem o verbo, se revela a comunhão do casal.

Adorei a parte em que os personagens discutem um possível aborto, em meio a gargalhadas. Descontextualização maravilhosa. A tragédia é uma puta comédia mesmo e sempre afinal.

Para mim, leitora do Tao-Te -King, IChing, Confúcio e afins, o mais difícil é entender a tal da não-ação. A experiência de ver os personagens o tempo todo sem se mexer, a dificuldade que deve ser para os atores passar a energia toda só com as expressões faciais... Muito bom. Os Atores são muito, muito bons. O alter-ego do autor está perfeito, até o mesmo nome, caramba!

Já disse demais. Hora do silêncio e da Não-Ação.

Por Sonia Andrade, arquiteta, espectadora essencial.

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