Leiam texto sobre Plínio Marcos aqui.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O que par seria

Andreah Dorim, artista essencial, sempre mirando pra cima. PARÉ.

A valorização, qualquer que seja, não é sempre uma verticalização? Não é fácil para o homem se tornar ereto. Todos engatinham por algum tempo antes de erguerem-se e muitos, mesmo depois de levantados, ainda conservam curvas nas costas, como se pendessem para o mais baixo. Estar de pé é um símbolo muito forte, principalmente porque é o mais alto que cada um de nós pode chegar com os pés no chão. Estar de pé ao lado de alguém é o que define nossa espécie. E é essa a noção que, por ser tão óbvia, logo perdemos. O ser humano quer estar no topo, não contente em estar apenas em si.

Quando vemos uma tribo indígena dançando de mãos dadas ao redor de uma fogueira ou formando um círculo, podemos perceber que as tradições dos povos primeiros são baseadas na força do estar junto em ritual de compartilhamento. E é preciso sempre, para esses, estar lembrando essa força. Mas aqui, na chamada civilização, muitos precisam lembrar o quanto são importantes enquanto indivíduos, justamente por não se acharem assim, e necessitam buscar uma auto-afirmação umbilical por insegurança ou carência de reconhecimento, o que não é estranho, já que o ensino na maior parte do país e do mundo é baseado no abandono e no abuso, assim como a educação que recebemos de nossos pais. Todas as propostas “civilizatórias” nos levam à solidão e à falta de referência e causam o isolamento e o comportamento defensivo. Sentindo-nos assim, como poderíamos nos abrir para a eucaristia?

Pensando apenas no teatro, reconheço que não existe a menor possibilidade de uma peça ser realizada satisfatoriamente sem a comunhão, sem o estabelecimento de uma comunidade ou, no mínimo, sem a composição de um par. Ao longo desses anos minha vida foi uma escola de aprender a compartilhar. Como todos, perdi muito tempo por ter sido condicionado ao egoísmo e às ilusões do ego. Portanto, agora que estou no pré-primário, é importante que eu reconheça, em cada atitude e frente a cada nova proposta de trabalho, que não realizei nem vou realizar nada sozinho. Vivemos o tempo do “por favor, vote em mim pra que eu ganhe um prêmio”, mas, parece que está cada vez mais claro que só seremos singularidades se votarmos em nós.

No caso da peça O Primeiro Dia Depois de Tudo, peço que leiam a ficha técnica postada aqui ao lado e entendam que tudo que foi realizado em nosso processo foi em conjunto e os dois atores recebem o maior mérito, pelo empenho e pela dedicação exemplar, empreendidos sem a menor remuneração. Em meu caso particular, devo a realização dessa peça à persistência e à coragem de Priscilla Carvalho, que foi minha companheira em todas as etapas.

E por fim gostaria de dizer que tudo que faço e penso em fazer se deve à minha parceira de sempre e sempre Andreah Dorim. Cada linha que escrevo, cada direção que imagino ou tento realizar está continuamente sob a influência que essa artista essencial exerce sobre o meu pensamento, a minha vida, a minha obra. Eu não teria chegado onde estou se não fosse ela, não que eu tenha ido muito longe, mas se dei um mínimo de lapidação ao me talento, o mérito é em grande parte de Andréita Dorim, minha comparte.

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